Há 20 episódios atrás começava a ser exibida a série "Justiça", uma série diferente, que parecia mais do mesmo, só que mostrou a que veio. A primeira novidade: uma trama toda ambientada em Recife, cidade nordestina super desenvolvida, mas que ainda tem resquícios de um passado de muito cangaço, embarcação negreira entre outras coisas que a colonização nos trouxe. A cidade, segundo Manuela (escritora da série) foi escolhida justamente por isso: O SENSO DE JUSTIÇA. Mesmo sendo uma das maiores capitais do território nordestino, Recife ainda carrega consigo a ideia muito presente de "olho por olho, dente por dente!". Uma coisa que maioria dos nordestinos, por conta do passado, e da cultura perpetuada, ainda carregam em si.
Trazendo como protagonistas: Jesuíta Barbosa, Adriana Esteves, Jéssica Ellen e Cauã Reymond, a série foi tomando rumos nada esperados tanto pelos telespectadores, e acredito que muito menos para os atores que interpretaram Vicente, Rose, Fátima e Mauricio. Tendo como "personagem interligador", Celso, interpretado por Vladimir Brichta.
Os quatro personagens foram enquadrado em 2 crimes, dois por assassinato, e dois por porte ilegal de drogas. A primeira trama discutiu "a moral do homem" ao ver sua mulher o traindo no banheiro de sua casa, A segunda, trás a relação forte entre mãe e filho muito encantadora e que desenvolveu mais tramas interessantes. A terceira falava sobre o racismo forte no Brasil, e ainda sobre a conduta dos policiais, e como o sistema presidiário não cumpre com a missão de "reabilitar" os "reeducando". Por último, o drama de um jovem que se viu obrigado a matar sua esposa por eutanásia.
Foram três crimes com justificativa de "amor", e um, injusto. E tudo isso foi ficando mais interessante quando começaram a entrar as tramas secundárias, como foi o caso do filho do deputado Antenor, culpado por ter atropelado a mulher de Mauricio, quando ele vazou as nudes de uma menina da faculdade, e ela tentou se matar jogando-se do alto da faculdade. Trazendo aí o perigo da disseminação descontrolada, e como um ato que parece ser "inofensivo" pode trazer grandes prejuízos. Outra parte do elenco muito boa e querida pelos tweeteiros foi o da "casa de massagem", onde Kellen (Leandra Leal), comandava as "meninas", mostrando os bastidores de uma casa de prostituição, como se dá aqui no nordeste, e como tudo funciona,
Outro núcleo que movimentou bastante foi o de Débora, amiga de Rose que foi estuprada em um carnaval de Recife. Essa parte veio mostrar, além de como a justiça é no Brasil, como é grande a falta de segurança no carnaval, e ainda fez as pessoas se questionarem sobre o fato do estupro. Você mataria o cara que estuprou sua esposa? E se sim, isso é vingança, ou é justiça?
A trama foi se desenvolvendo tão lentamente e bonita, que o capitulo de hoje, já dava vontade de assistir o daqui a uma semana e assim sucessivamente. A dinâmica de ser um capitulo diferente, porém interligados, foi muito inteligente, pois o telespectador, ao mesmo tempo que sentia falta da história (pois tinha que esperar uma semana para assistir novamente), tinha que assistir todos os episódios pois um deixava uma pontinha para o outro.
Não costumo ver séries, mas essa em especial me fez acompanhar até o final. Acho que essa novidade de dias diferentes foi o que me chamou atenção, além das emoções no primeiro dia! Outra coisa que me chamou MUITA atenção, é que as histórias se sustentaram de forma tão genialmente incrível que eu não sei como Manoela pensou nisso. Por exemplo, a história de segunda começou COMPLETAMENTE movimentada, pedido de casamento, ciumes, Vicente matando a própria namorada, mas foi se desenvolvendo de maneira mais lenta, Já a de terça, tinha TUDO pra ser a mais chata, começou rápida e depois foi parecendo novela das 6. Mas o elenco maravilhoso, e a introdução da Suzy, ou melhor, Mayara, junto com todo seu núcleo, sem contar com Douglas, foram o que subiram novamente com tudo o episódio.
Já a história de Rose começou movimentada parecendo que seria a melhor entre as 4, mas por algum acaso foi bandeando... enfim, volto aqui no final! E por último, a história de Mauricio começou MUITO, MUITO, MAS MUITO chata. Quem viu as outras primeiras, acreditava que seria muita movimentação, mas isso não aconteceu de princípio, porém, com a entrada do núcleo responsável pela parte da politica, e a linda e maravilhosa Drica Moraes no papel de Vânia foram essenciais para trazer a história para o mesmo nível que as outras três.
Mas como toda série, Justiça precisou chocar... e que choque não foi migos? Começando por Vicente e Elisa. Quem diria que a mãe, super protetora, que arquitetou durante 7 anos como matar o assassino de sua filha, iria ter que dá aula para ele na faculdade, ser orientadora do seu mestrado, e ainda, se apaixonar e se envolver com ele? Mas eu acho que o mais estranho não foi isso não! Foi as pessoas amarem e odiarem essa relação. Não se ouvia uma opinião certa sobre a relação desses dois, era ou 8 ou 80, ou amávamos o casal, ou odiávamos. E o final, foi chocante mais que seguiu a proposta da justiça oferecida pela série... ele morrendo e ela ao lado sem prestar socorro apenas observando, foi uma cena forte, e reflexiva.
Esse foi o núcleo que se desenvolveu de forma mais linear, e que, independente das outras tramas, se desenvolveria fluentemente, As tramas atreladas a ele, como o caso da menina das nudes, foram o trunfo para manter-se um bom fluxo. Fazendo uma avaliação desses episódios em questão, seria um 9,5 - não foi 10 porque eu gostava do Vicente e queria que ele ficasse vivo e rico da Alemanha.
Eu nem tenho que falar desses capítulos aqui! Histórias maravilhosas, pessoas maravilhosas, tramas que fluíram perfeitamente. Fátima foi a protagonista do começo ao fim, mesmo Kellen tentando roubar seu lugar. Os filhos de Fátima: Mayra e Jesus também contribuíram muito para a fluidez. O segundo, durante o inicio, quando Fátima saiu da cadeia. Já Mayara, durante todo o resto da série foi o "suporte". As trapalhadas de Douglas fez desconstruir a ideia de um policia racista e elitista, fazendo com que as pessoas criassem um carinho por ele.
Se fosse para dá uma pontuação para essa série de episódios eu daria um 10 com muito louvor. Todos os personagens mais queridos tiveram ótimos fins! Até Kellen, a malvada do episódio se deu bem! Teve para todo gosto!
Já a história de Rose é a que, entre as três, deixou a desejar. Ela parecia a história mais envolvente! Imagina como seria interessante ver essa questão de ser ex presidiária e negra televisionada? Imagina quanta história poderia se desenvolver? Até um "acerto de contas" com Douglas, já que este também tinha problemas com Celso. Quando entrou a parte de Débora, apesar de ser uma história muito cativante e reflexiva, ela roubou toda a história de Rose, transformando-a em uma coadjuvante do seu próprio episódio.
Para se ter uma noção, o final de Rose, além de não trazer a temática justiça, diferente do da Fátima, que foi uma justiça diferente, mais plausível, ainda deu pouco destaque a mesma no seu derradeiro fim. Ela apareceu pouco, e em seu episódio, se desenrolou já uma cena do episódio posterior, como se, sua trama não conseguisse sustentar aquele episódio. Explicando a justiça da Fátima: O que Fátima queria? Sua família segura, feliz, satisfeita, e ter como sustentá-la. Como foi o seu final? Justamente esse. Já Rose? Rose queria entrar na universidade, mostrar como o país é racista. Ela poderia até travar uma disputa com o candidato ao governador do estado. Seria muito boa de se assistir, mas preferiram focar no estupro, que não deixou de ser ruim, porém, não era a principal. Uma nota para esses episódios? 7, porque é a média pra passar, mas ainda faltam 30%.
E por último a história de Mauricio. Uma das histórias mais bonitas entre as 4 - não que as outras não tivessem sido, mas essa em questão denunciava uma série de injustiças -, teve sua "justiça" não tão efetivada, somente para ele.
Se por um lado, Mauricio se viu satisfeito pela prisão de Antenor, por outro, as pessoas aqui fora pegaram um ódio até superior que o dele! Suas falcatruas com lavagem de dinheiro e outras porcalheiras que foram sendo apresentadas ao desenrolar dos episódios só fez as pessoas criarem uma maior expectativa de que o final de Antenor ainda foi pouco perto do que ele fez. E para completar, o episódio deixou mais uma morte odiada pelo público que foi a da Vânia, mulher de Antenor pela qual todo o público torceu para um final feliz.
O filho do Antenor impune, mesmo depois de ter atirado em Mauricio e feito o que fez com as menina na faculdade, foram mais injustiças nítidas e sem finais plausíveis. Se fosse para tirar uma coisa boa do seu fim, foi que ele ajudou a Débora a fugir. Apenas. Uma nota para esses episódios? Será que merece 6?
As quatro histórias de justiça deixaram pendências em aberto, uma das primeiras é a menina que tentou se matar jogando-se da faculdade. Não ficou claro seu final, mas, ficou claro que o "responsável" direto de seu quase suicídio vai se eleger como deputado de seu estado. No mesmo episódio, deixa-se um ar de que a esposa de Vicente vai se vingar, pois, o episódio termina com ela treinando tiro.
E no episódio de sexta feira, ainda tem uma promessa de Antenor de que ele irá pegar Mauricio. Porém, não acho que seria interessante o desenrolar dessa história, e sim, somente das duas primeiras. Uma ótima coisa que poderia se fazer, seria linkar pendencias deixadas nessa, com novas histórias que se desenrolariam em outro ambiente, como Manaus, ou até outra região nordestina. O estilo de episódios "que não continuam e ao mesmo tempo sim", faz com que várias boas tramas entrem na história. Mostrando os bastidores desse Brasil que é tão amplo, e que foi muito bem representado na TV por essa série maravilhosa chamada: JUSTIÇA!
A minissérie foi um sucesso inesperado, além de uma inovação muito boa na TV, quebrando com os clichês anteriores a ela, o que é um ponto mais que positivo para que exista uma "Justiça 2", isso pode não acontecer, já que a autora já está envolvida em outro projeto, e a Rede Globo tem costume de não fazer continuação de séries desse jeito. Porém, o ator Vladimir Britcha, disse que nos bastidores muito se falou sobre uma segunda temporada. Será que a Globo vai atender o pedido dos atores e dos telespectadores? Eu tô aqui na torcida! Uma coisa linda como essa não pode ter apenas uma temporada enquanto chapa quente tem várias!